As pessoas não pensam, não reflectem sobre o que significa conhecer pessoas novas. Esquecem que ao travar conhecimento com uns e outros lhes é imposta uma mudança radical na forma como poderiam ver essas personagens que, passando ao nosso lado como desconhecidas, não teriam direitos sobre a nossa vida, sobre o nosso tempo, sobre a nossa maneira de estar e de ser. Conhecer alguém, manter o que se chama uma relação, seja ela romântica ou de amizade idealista é uma camisa de forças para a nossa individualidade e muitos só se mantêm presos porque a sociedade impõem que, para nos tornarmos completos, nos devemos partilhar. Para mal dos meus pecados sou das que gosta de se sentir limitada na forma como vou gerindo o dia a dia, sabendo que tenho que lidar com gentes que estão fora de mim e, apesar do contra-senso lá vou andando... Mas o carro de bois tem dias em que empanca e dou por mim a retirar peças, a desmantelar até os ditos bovinos, esperando encontrar a falha que, não sendo mecânica, me deixa de cara à banda sem saber o que faça ou o que diga. Há pouco tempo disseram-me que posso querer ser especialista em verbalizar o sentir mas nunca única nesse pensar que sinto; para além de me ter encontrado defraudada na minha pretensa originalidade como ser humano ainda levei as mãos à cabeça pensando como não estava rodeada de suicidas, isto presumindo que o que me foi dito é facto consumado e não um tremendo disparate!
A saber; recordo que na minha adolescência escolhia, quase todos os dias, diga-se, qual o tipo de pessoa que desejava ser. Isto é, pensava em quais deveriam ser os meus comportamentos, a minha forma de me visualizar, os valores que gostava de rever em mim. Queria ter orgulho o que me punha o cérebro num só nó pois que ser orgulhosa mandava, muitas das vezes, esta necessidade de me sentir com orgulho por quem era/seria, para o espaço. Uns dias era uma santa, calma, falando pausadamente, reflexiva, com hábitos de leitura insuspeitos que lutaria pelo missionato e por um preenchimento intrinsecamente espiritual. Noutros queria ser uma jovem revolucionária, extrovertida, comungar amores com parcerias inteligentes e ininteligíveis (veja-se!) fumar cigarros sem filtro e beber uns copos enquanto poetesiava os sentidos. A mais das vezes gostava de ser uma incompreendida de palavra inoportuna, mal comportada e de tpm permanente. Mais espantada fiquei quando o sexo entrou na equação e compreendi que as variantes que possibilitava na minha forma de sentir eram, não só incontáveis, como inexpressáveis.
A ser verdade que todos temos esta amiga esquizofrénica dentro de nós, faz pouco sentido que contactemos uns com os outros da forma permanente e, arrisco, obsessiva, como fazemos.
Já não basta ter que ser quanto mais ter que dar, ter que doar e ter que ser coerente! Fundamentalmente é esta exigência de coerência que me põem de cabelos em pé! Diz-se ser a individualidade de cada um a coisa mais preciosa que há no nosso universo de seres humanos e aprecia-se tão pouco essa caracteristica Invejo, desde muito jovem, a capacidade que alguns têm de passar por esta fase de carne, incógnitos, invisíveis, sem necessidade de travar conhecimentos; sem a necessidade de serem travados! Sem camisas de forças!
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