perna de pau e olho de vidro
terça-feira, 28 de maio de 2013
Contagens (de)crescentes
O facto de haver quem me diga que não receia a morte é algo que me perturba um pouco mais do que a sua inegável existência. Explicam-me que a finitude se pode comparar a um sossego, um repouso permanente e merecido mas, para que haja descanso é suposto haver uma réstia de consciência. É assim que retiramos prazer do sono, dos intervalos que a vida nos permite... Uma coabitação da alma e do corpo que se dá durante esta viagem mais ou menos inconsciente... Nada disto tem uma ligação com crenças ou com os habituais receios do que está ou não do outro lado e, por mais que me debruce sobre os meus medos, sobre os ensinamentos e o folclore que me acompanha as dores do crescimento fico embrutecida com a magnitude da minha não existência. Se a teoria da condensação do tempo for verdadeira a nossa existência é permanente. Não temos direito a um fim. Isto poderia ser uma forma de encantamento... ou uma condenação que se condensa na eternização de nunca repousar.
Quem me conhece sabe-me racional, pouco dada a receios infundados. Mas, tendo-me como uma mulher inteligente, sei também que, o que conheço do espaço físico e etéreo que me rodeia, é um quase nada macabro.
Não ensandeço com esta "sapiência" (ou a consciência da sua falta) porque me capacitei desde cedo que, o que se não me pertence, deve ser mantido num patamar de respeito, de voluntário agnosticismo.
Não a aceito... Esse término que nos retira os bem amados dos braços sem pedir licença. Poderá ser doença, uma patologia a negação da finitude? Para mim é a prova final da nossa sanidade. Da minha! Se me deixar convencer de que tudo acaba, de que eu própria sou feita de uma pequenez científica que me resume a moléculas com vontades que ignoram as minhas, ai sim, sentir-me-ei no bom caminho para a camisa de forças.
Ainda para mais vivo num mundo onde o facilitismo do pensar é rotulado como capacidade de raciocínio. Há os loucos que acreditam, que querem acreditar, numa continuação; há os loucos que acreditam no oposto... Não consigo encontrar uma linha de pensamente que vá da loucura, da declarada patologia, à crença na infinitude de uma parte de nós.
O que sei é que não são as imagens dos mortos retornados que me assustam mas a tendencia que há para os representar como seres perdidos, pútridos, que, conhecendo os mistérios, as razões, as vontades universais, insistem num tormento que estendem deles para os outros... os pobres que andam ás voltas com as questões de quanto tempo tem, de facto, cada um de nós.
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Abnegada doença a paranóia que me diagnostico
Quando alguém se preocupa com a falta de entendimento da parte dos outros apanha-me sempre desprevenida.
O tempo que eu despendo tentando compreender os meandros do meu pensar, do meu sentir, é de tal ordem extenso que me resta muito pouco para me subtrair à ideia nada original de ser incompreendida. É uma ideia tão vazia, tão oca como a imagem de que o sofrimento é apanágio da nossa vivencia especifica; uma falsa alegoria, uma divinização do eu que só comprova a simplicidade umbiquesca com que nos integramos ao achar que não estamos integrados.
O rocambolesco em que envolvemos as nossas criações é muito mais digno de ser analisados do que esta corrida, esta sede de diferença.
Sei-me tão banal como os outros, que o meu sofrer, os modos de vida que escolho ou os sonhos que vou acalentando não passam de cópias submissas da eternidade dos desejos dos meus companheiros nesta terra. O que sei original é o modo, o frenesim, a delicia com que os vou dissecando, tentando saber, não a finalidade do existir mas confrontando-me com a crueza da finitude: a minha e a de tudo o que me faz um ser uno.
A questão da finitude é-me crucial. Há gentes (como eu) que se afundam na magnitude da escuridão que está para além da recta final. Há quem olhe para o espelho, seja belo ou cause asco com a sua imagem, e seja capaz de deixar as lágrimas tombar com a consciência da partida. A consciência de que não mais seremos os mesmos reflectidos naquela superfície. Há os que se dignificam, com a preconização teatral de recorrer a esse espelho vezes sem conta, durante as mesmas 24 horas, não por vaidade mas para se confrontarem com a certeza de que a imagem anterior não mais será igual à subsequente. Os sentimentos; a aversão, o carinho, o estado físico, a medida em que esta soma nos atinge e nos dá a incoerência de desconhecer quem ri ou chora do lado de lá, são uma delícia nefanda... Uma droga a que não resistimos. Nunca somos iguais a nós próprios e é esta a tenebrosa realidade que nos faz ter um paradigma de valores que queremos quebrados, modificados ao longo da vida. Eu, como os outros, passei as fases de crescimento (aquelas que os psis crêem ser as cruciais para a formação do espirito individual) mudando este paradigma do modo mais exagerado que consegui. Quis ser freira, quis ser política, quis (quando a decepção do mundo me caíu nos ombros) ser algo que fosse uma colagem, um paralelismo da invisibilidade e nunca, nunca quis ser algo pela profissão que me era dada como opção mas porque andei sempre perdida entre o desejo de ser altruísta e egoísta, entre a entrega ao socialmente aceite e o desvirtuar da virtude instituída que pode alterar uma sociedade inteira. Cheguei, mais tarde, à conclusão de que queria o mesmo que queremos todos: a diferença que tanto me inquieta... Não ela por si mas a sua busca incessante que nos tolhe por desejarmos, exigirmos ser idolatrados, tendo como referencia a santa originalidade bacoca, tendo como súbditos da nossa vaidade o pensamento tacanho do que é igualitário.
Por esta arrogância consciente pago o preço de me dizer que não quero tornar-me inteligível, mesmo sabendo que me minto quando busco esta realidade e, só isso me atravessa a mente quando oiço alguém dizer:"Ninguém me entende".
Acredito veementemente que o que me está a ser comunicado é: "Ninguém me percebe porque eu sou um novo génio do sentir... Eu sou o novo humano ainda por descobrir..." Esta tacanhez de visão é generalizada e, parece-me difícil de gerir ou alterar. Tendo sido educados com a ideia de que cada ser é um mundo, acabámos exigindo a expansão do nosso universo individual e, caso queiramos submeter o outro ao que somos, ao invés de fazermos simples desabafos nas redes sociais (que qualquer pessoa com dois palmos de testa sabe nada modificarem) tentamos que os mais distraídos reflitam a respeito do nosso acerto. Há quem lhes chame teses, passos dados para o estudo do que será o bem comum... Talvez o sejam ou então um modo muito elaborado de "lobotomar" a alma. Antes igual que angustiada com tanta diferença!
terça-feira, 9 de abril de 2013
Nota encontrada no bolso de uma alma suicidária
Começou como tudo começa.
Um leve apontamento, um pensamento que questiona a veracidade das respostas.
Uma tristeza tão pequena, tão singela, que pouco valor lhe poderia ser atribuído. Algo tão suave, tão ligeiro que quase não podia ser sentido... Aquele encanto dormente, uma espécie de amargura que encarde mas não suja. Desfazendo o penteado, colocando os dedos frios, marmóreos, entre o calor desse ninho amoroso que me coroa e emoldura o rosto. Entrançando a memória, acariciando a pele mais velha, esmaecida, escarnando ao vislumbrar a superfície polida... Voltando à incidência da reflexão, pensando nessa companhia que sorri enternecida, na lonjura de uma dúvida, numa outra certeza de amargura.
Não seria eu sozinha... Os ombros desnudos e a complacência da sua brancura acompanhando a brandura da pauta que soa e não se desenha nesta realidade, nesta abstração a que continuo alheia.
Uma melancolia tão apreciável, tão doce que quero eternizável... Esse amor pela companhia, esse acompanhar-me que combate o dualismo, esse arrazoado de sentires que estima e enaltece o meu mutismo. Algo que se compreende com o gosto do nós pelo eu. Um mundo que se sabe exposto e que, tão espesso se vai tornando, poderei sempre chamar de meu.
Olhando os pulsos, as mãos mais grossas que antes, antevendo as manchas, as dores os sulcos arenosos dessa epiderme que o futuro esconde e... hei-la de volta: a sistémica, endémica camada de medo que cobre o gosto, que deixa o travo amargo que vicia. Algo que surge por fora, que urge acarinhar e esconder não vá o descuido mostrá-la a quem a não saiba ver...
Essa frase companheira que se esconde na interrogação da partida, uma certeza indefinida de querer desistir um pouco mais depressa. Não porque não se goste da vida mas porque é a morte, essa partida que escanteia a falácia das juventudes, que a engana e ataca o seu prazer pelas carnes miúdas.
Olhando os seios, esses seres de vistas curtas que se esbugalham com os espantos alheios... Inertes, sem sangue que os queiram cheios. Esse esvaziar de adventos, de vontades, de ataques e emolumentos.
Como se escreve uma carta às nossas bem feitorias mais urbanas? Como deixar notas ao eu que tão bem conhece a dita história? E dar conta ao que temos dentro do desespero miudinho? Esse eco ruidoso que se ouve no escuro num perpétuo burburinho...
Como nos podemos declarar pedindo ao eu para nada recear, para não esquecer que morre só o que não nasce em sua companhia?
Como explicar que a dor, essa abrilhantada amargura será sentida apenas... no momento antes, o prévio segundo da partida? E depois? Se for a inconsciencia o que invade o corpo. Como voltar a sentir tanto se fica o invólucro morto? Como voltar ao que se questiona, ao contorno da idolatria, desta desigualdade que se irmana quando me deito comigo na mesma cama? Se não me puder voltar a amar, a sentir proprietária desta inveja do que não sei concretizar, deste desespero entristecido pela complacência da incompetência de me manter no estado latente de dormência?! Se morrendo, morrer de vez? Se nada mais estiver nos meus planos a não ser um apodrecimento diferente, não menos belos mas, uma vez mais, triste por ser tão inconsciente... Como voltar atrás desfazendo a tonitruante tortura de querer sentir esse adeus novamente? Como nos despediremos de nós diariamente?
Xeque ao Bispo
Mitra de poliéster, manto de farrapos...
Mente de multidões que nos encadeiam antigas percepções.
Assim são feitos os paradigmas ilusórios dos desejos transitórios que nos emudecem as palavras.
E se fossem estas de presentes lavras ficaríamos apaziguados com os dramas aziagos, suspirando por futuros desgraçados que encontrariam confortos escondidos neles abraçados.
Altar de pinho verde que de belo mantém o aroma que se quer convicto à conta de um forçado glaucoma que impossibilita a retirada da névoa...
Esse humedecido vestido de contas e miçangas, essas jóias preciosas que se vendem com verbos e outras tangas.
Fosse o transeunte distraído e teria visto que o incidente da má sorte não era mais que um desvio sadio, permissivo para com o defunto...
Haja tema, haja assunto!
Mente de multidões que nos encadeiam antigas percepções.
Assim são feitos os paradigmas ilusórios dos desejos transitórios que nos emudecem as palavras.
E se fossem estas de presentes lavras ficaríamos apaziguados com os dramas aziagos, suspirando por futuros desgraçados que encontrariam confortos escondidos neles abraçados.
Altar de pinho verde que de belo mantém o aroma que se quer convicto à conta de um forçado glaucoma que impossibilita a retirada da névoa...
Esse humedecido vestido de contas e miçangas, essas jóias preciosas que se vendem com verbos e outras tangas.
Fosse o transeunte distraído e teria visto que o incidente da má sorte não era mais que um desvio sadio, permissivo para com o defunto...
Haja tema, haja assunto!
quinta-feira, 4 de abril de 2013
A fidelidade dos indigentes
Se a função espiritual da existência da infidelidade fosse medir a capacidade de retidão, seria levada a concluir que os castramentos emocionais são, consideravelmente menos violentos quando comparados com a falta de necessidades dos que não são tentados.
Nestes moldes, analisando o paradigma do pecado, ou da condenação, não podemos colocar em pé de igualdade quem é/foi tentado e os que, por incapacidade emocional, discursam de modo bíblico a respeito da nefanda epopeia dos traidores.
Ou seja, se convencionarmos que o puro é o que luta contra as investidas do desejo, exprimindo assim a veracidade de uma vontade de crer na eternização do amor, passaremos a adjectivar como vazio o ser impenetrável o que nunca se sente tentado.O não tentado, pode ser o que não tem capacidade de reagir a estímulos novos, "deficiência" que podemos vincular a uma certa habituação ao "amor" pelo outro e nunca à vivencia da essência do verbo.
No entanto, admitir que há tentação e que preferimos a não cedência deixa-nos com outro problema. Se sou tentado estarei na obrigação de respeitar o vínculo associado a um compromisso ou, pelo contrário, terei que sobrepor a vontade do eu aos receios que me são externos? Deverei preterir a minha mágoa com o medo da dor do outro?
Não há como concluir se o mal radica na compartimentação do desejo, o que pode pressupor um desrespeito pela nossa liberdade individual ou se o que está errado é o conceito de retidão moral. Isto porque, o desejo em si é condenado antes de qualquer concretização.
O que me leva a esta reflexão é o preto e o branco com que tanta gente avalia as relações que lhes são alheias. Mais do que isso, aterroriza-me o facilitismo da condenação como se houvesse alguém que ainda acredite que pode algo contra si próprio, estando certos do seu futuro romântico .. Vende-se a moral em pequenos pacotes cujo rótulo deveria dizer "contra testes em mim próprio"
Somente o ser confrontado com estas dicotomias pode dizer que respeita a assunção da dificuldade de discernir sensações e as suas repercussões.
Quem ama conhece a inevitabilidade do questionamento, a obrigatoriedade de adaptação... Só questionando se pode optar. Mais: só tendo escolha se pode optar!
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
As bonitezas alheias que se adotam adaptadas
A mamã sempre foi forte; hoje sei que quem é forte leva no cepo com os valores por outros instituídos, prescritos como benesses sociais. A mamã era boa cachopa: trabalhadeira como as modernas, herege como as modernas, fodida como as antigas (palavras sábias da vovó inconformada por ver a neta sem mãe). Levaram-na de robe, num domingo de manhã. Sete age
ntes armados de arrogância e cágados que, por detrás de tanto autoritarismo escondiam a incapacidade de assumir o medo de se conhecerem como um nada; um nada tão nulo para eles como perigoso para quem os enfrentasse! Assim os vi invadindo a casa, de mandato na mão, arautos da justiça e bem viver! A mamã, reencarnação de uma guerrilheira qualquer, grita a plenos pulmões : "Ninguém revista divisão nenhuma sem a minha presença!" Os bófias bufafam... Os bufos bufavam... Eu, enjeitada adolescente, gorda como pipa de vinho, lá me atrapalhei: "Mamã que te levam...", lágrimas nos olhos e resposta esbofeteada nas ventas. "Deixa levar. Precisas de mim para quê? Já não cresceste?"
Quis-lhe dizer que não. Que era pequenina e lhe necessitava do colo. Que ela não podia ir para a prisão apenas porque alguém não a queria na rua!
A busca desavergonhada foi feita com leitura do meu diário... Aqueles, aqueles... aqueles senhores, protetores da lei e da ordem, riam do meu drama, das minhas dores de crescimento, dos meus amores escondidos.
Levaram a mamã e, o meu irmão, outro enjeitado com forma de aranhiço, agarrado às minhas pernas, de cabecita enconstada á minha anca roliça, perguntando se fariam mal à progenitora.
Que não, respondia eu, com as lagrimas cravadas na garganta, entendendo a sede de matar pela primeira vez na vida, entendendo a necessidade de vingar a confusão do meu pequeno amor encostado à minha anca roliça... Cabrões, cabrões, cabrões. Insultos calados que o pequeno precisava de ser vestido e o pai, o meu Romeu por Freud enviado, foi atrás do carro patrulha, observando as algemas, respirando em golfadas curtas com o pavor do sofrimento da sua Julieta!
O tempo passando, os advogados passando, o processo passando. O meu 18º aniversário. Amigos em casa e o telefone tocando. Sentada ouvi a festa longe e a mamã pertinho de mim, do outro lado cantando "Parabéns a voce, nesta data querida..." E eu soluçando, gemendo baixinho aceitando a morte mais facilmente que este roubo conspurcado, este nojo de se viver num estado que leva o coração às gentes.
Eles estarão sempre do lado de lá mas nós, a família louca, desavinda que se deseja como quem respira, do lado de cá... dentro!
Quis-lhe dizer que não. Que era pequenina e lhe necessitava do colo. Que ela não podia ir para a prisão apenas porque alguém não a queria na rua!
A busca desavergonhada foi feita com leitura do meu diário... Aqueles, aqueles... aqueles senhores, protetores da lei e da ordem, riam do meu drama, das minhas dores de crescimento, dos meus amores escondidos.
Levaram a mamã e, o meu irmão, outro enjeitado com forma de aranhiço, agarrado às minhas pernas, de cabecita enconstada á minha anca roliça, perguntando se fariam mal à progenitora.
Que não, respondia eu, com as lagrimas cravadas na garganta, entendendo a sede de matar pela primeira vez na vida, entendendo a necessidade de vingar a confusão do meu pequeno amor encostado à minha anca roliça... Cabrões, cabrões, cabrões. Insultos calados que o pequeno precisava de ser vestido e o pai, o meu Romeu por Freud enviado, foi atrás do carro patrulha, observando as algemas, respirando em golfadas curtas com o pavor do sofrimento da sua Julieta!
O tempo passando, os advogados passando, o processo passando. O meu 18º aniversário. Amigos em casa e o telefone tocando. Sentada ouvi a festa longe e a mamã pertinho de mim, do outro lado cantando "Parabéns a voce, nesta data querida..." E eu soluçando, gemendo baixinho aceitando a morte mais facilmente que este roubo conspurcado, este nojo de se viver num estado que leva o coração às gentes.
Eles estarão sempre do lado de lá mas nós, a família louca, desavinda que se deseja como quem respira, do lado de cá... dentro!
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Dedicatória a William Golding
É mais difícil para mim ouvir os outros do que dizer que não me apetece ouvir-me. Não que sinta ter uma consciência menos obtusa que a dos restantes seres humanos, ou que tenha a certeza de não reencarnar num qualquer insecto (encarnação vulgarmente conhecida para quem não soube lidar com os seus pares com a delicadeza que as leis cósmicas exigem!)... Vale-me a certeza de que não serei colocada no recto de algum género monástico para me considerar uma tipa com sorte, mas valha-me Santo Eufrásio se alguma destas reflexões me enobrece as apoquentações!
Enquanto carrego a preocupação de ter um nó aqui dentro (não sei especificar onde!) que acabará por dar origem a uma porra qualquer entre a laringe e o útero, falta-me o sono! Pois que com pensamentos destes não é coisa de admirar. E esta porra toda porquê? Porque já me bastou ter que usar franja de galo quando a minha rica mãezinha não sabia que o catano dos caracóis não se escovam, ou demorar uma década a conseguir usar as pernas de um corpo que, sistematicamente, crescia mais do que era esperado... Mas não! Chegada aos 32 ainda tenho que ter rebates de consciência malévolos que me empurram contra uma parede de betão. Atrás de mim os valores de terceiros que não compreendo, à minha frente a certeza de que, para permanecer com a alma inteira, terei que refazer a espinha dorsal do que é, presentemente, a minha ética pessoal! Ora foda-se, dizeis vós! Que brilhante conclusão! Como se todos os outros tristes mortais não passassem pelo mesmo!
Vamos ver se nos entendemos!!! Passam todos o mesmo, coisa nenhuma!
Conheço vários espécimes que me convencem de que os convênios celestiais dividiram a espécie humana consoante a programação da manhã, da tarde e da noite! Como é óbvio, há os competentes aborrecidos que apresentam a "Praça da Alegria", que estarão a ser chacoteados por algum tenebroso buda dos demónios, que achou ser pouco reencarnar como besouro carregador de bosta; os que vão ao dito programa, os que a ele assistem e os que não têm outro remédio! Claro que, até chegarmos à Fátima Campos Ferreira ainda a procissão vai no adro... e diga-se que, acompanhando a tendência "porteguesinha" estou em crer que no andar de cima também se andam a fazer uma quantas privatizações!
Se estou com medo?! Ai pois claro que estou! Não tanto pelo acervo de brilhantes disparates que tenho feito na minha presente vida mas também porque não sei se a falta de imaginação dos que gostavam de ter perpetrado os mesmos crimes "contra a moral e bons costumes" que eu, não acabará por reverter contra a minha pessoa... ou a minha próxima pessoa, digamos assim.
No fundo sou boa cachopa... mas toda a cachopa tem os seus estorvos! Esses estorvos são, muitas vezes as doridas, incapacitantes e nauseabundas emoções. E damos trinta voltas aos assuntos pensando o que faremos, o que faríamos e o que deveríamos fazer, para quê?! Arre catano: para fazer o mesmo que as outras pessoas que não pensam em coisa nenhuma! Ora dito isto não me parece justo... e que não me venha Nosso Senhor com merdas: "Ai e tal... como fizeste mais reflexões virás como um insecto, mas um dos grandes!" Está bem de ver que se acordo com um corpo comprido e viscoso e com um cento de pernas arranjo maneira de antecipar o Armagedon!!!
Escusas! Já sabes que vou rezar um terço antes de dormir, pela minha alma e por mais umas tantas que considero, mas não me lixes!
Fica o aviso à tripulação que se é para me ferrar com os queixumes costumeiros às dores de um "então não é que somos todos tão bons no fundo!", só aceito voltar como bicho da madeira de um crucifixo milenar numa dessas igrejas de grande importância religiosa!
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