quarta-feira, 25 de abril de 2012
Cravos e espinhos
Tenho um pai como o de muitos vós, que me falou, desde pequenina, do que era levantar-se com frio e com fome para apanhar a palha para a vaca leiteira da casa. De como ia de Sto Varão a Coimbra a pé, para ouvir os ensinamentos primários. Como foi a guerra, de como partiu para o ultramar com a morte no espirito, não avisando ninguém, não tendo quem dele se despedisse. De como regressou e acordou um dia, sem mexer as pernas devido aos ferimentos e chorou ouvindo na rádio como se fazia a revolução que tanto ansiava. Um pai que me apresentou aos amigos mutilados nas carnes e no espiritico. Amigos que o acompanharam e me agarravam nas mãos em cada manifestação, em cada comemoração do 25 de Abril. Amigos que vi morrerem, amigos que se mataram porque há minas que não rebentam a não ser dentro de cada um. Cotos que sangravam á minha frente do esforço de andar a calcorrear as ruas de cravo na mão e que me diziam e mostravam que há passos tão maiores que qualquer perna. Por esta gente, que choro todos os dias, por esta gente que me assombra o reacionarismo, nunca esqueço, nunca desisto, nunca me enfado de gritar: liberdade, liberdade, liberdade. Viva o 25 de Abril!
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