Passei a tarde em ânsias analisando as minhas paixões e sendo engolida por racionalizações quanto ao que se passou com o Pingo Doce no nosso estimado dia do trabalhador. Aos que pouco me conhecem tenho-me como uma comunista reaccionária o que não me deixa, a mais das vezes, bem vista por nenhuma facção ideológica. Mas esta permissão que dou a umas ideias de deglutirem outras não me torna menos presente, menos consequente ou menos interventiva como cidadã. Desta feita fico, não dividida, mas numa completude estupefacta perante a grandeza de inteligência do marketing do grupo Jerónimo Martins.
Aos mais distraídos escapou a polémica do dia 30 de Abril em que sindicatos alertaram para o facto de, várias grandes superfícies (grupo Jerónimo Martins incluso), terem pressionado os seus trabalhadores a não exercerem o seu direito à greve, tendo sido avisados pelos seus superiores hierárquicos, de que seriam sancionados no caso de a ela aderirem. Ora, no dia seguinte, abre o PD as portas com uma promoção alucinogéna de 50 % de desconto em compras superiores a 100 euros. Em primeiro lugar nunca deu tanto jeito aos poderosos que o dia do trabalhador e o feriado a que ele se refere fosse num dia 1. Famílias com dificuldades financeiras e que, ainda assim teriam que encher a dispensa, lá foram em romaria, tendo o salário já dado entrada (a maior parte das vezes) na desfalcada conta bancária!
Em segundo lugar, o que foi "demonstrado" aos sindicatos é que o povo adere às ideias de quem o alimenta e não às de quem diz que ele deve lutar para se alimentar.
Conheço muitas pessoas que aderiram a esta escatologia comercial; pessoas que admiro e respeito do mesmo modo que respeitarei as que, com o avançar do tempo, e sem 100 euros para aderir a tais "eventos", se lembrem de invadir os supermercados servindo-se a seu bel-prazer.
Já ouvi palavras bonitas dizendo que esta iniciativa deveria dar-se mais vezes para que, a bem das leis da concorrência, levadas pelo bem estar económico, as empresas, fossem obrigadas a descer os preços. Pois seria muito belo que o fizessem não fosse este caso ter-se dado com um salazarista mais ditatorial que o próprio que em tantas entrevistas já mencionou o que acha que o povo deve fazer e como o lado humanitário de um país deve ser visto.
Tendo ouvidos e bons olhos confesso que o cansaço a que tantos já se votaram também já me chegou ao lombo e, apesar de não me passar pela cabeça ir "feirar" no dia do trabalhador também não levantei o meu traseiro ressacado da cama para acompanhar as pessoas valorosas que se reuniram em manifestações, por esse país fora em nome dos cegos, dos preguiçosos, dos presunçosos, e de tantos outros "osos" que por ai pululam.
Se resolvi escrever sobre este assunto não foi para bater palmas ao PD e ao seu Senhor que tão bem disposto deve estar, dizendo de si para si que povo pobre obedece e não morde. Também não o faço aos sindicatos, apesar do respeito que lhes tenho, idem para a população que, abrindo mão (ou não) dos seus valores ali se dirigiu.
O meu aplauso vai para os que, continuam a acreditar na inteligência do seu povo, que continuam a lutar pelos seus ideias e unificação de um país. Não estive em nenhuma das manifestações, nenhuma festa que marcasse a data mas prometi, coberta com a vergonha de uma antiga sonhadora que se perdeu nas racionalizações fáceis do "não serei eu a marcar a diferença" ou "lutar por quem não quer já me chega", que serei parte integrante deste sonho em que a interajuda e o idealismo valem mais do que o colonialismo monetário.
Quanto ao Sr. Soares dos Santos... Bem, é impressionante como um merceeiro consegue mostrar os seus pontos de vista num país como este!
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