Dia da mãe.
Tenho uma, apesar de haver rumores de que nasci por geração espontânea. A minha é das rijas. Uma mulher de críticas e arrogâncias, de poucas humildades e de humor acutilante. Uma menina honesta que, às duas por três, me pergunta porque sofro, visto que, ficando em casa a fazer malha em vez de me pôr com saídas e arejamentos, nenhum sofrimento me caberia.
Eu tenho uma mãe inacreditável em todos os sentidos. Uma catraia que ombreia comigo em tudo menos no receio de que a vida lhe roube os sonhos.
A minha Fernandinha tem o condão de me tirar do sério em quase todos os discursos que me faz... Tem a capacidade de me ensinar a ser mulher e a não alimentar os meus medos; a encarar os adultos como adolescentes mais velhos, a entender que as verdades dependem do universo de cada um.
A minha Fernandinha acarinha-me como sabe... Por vezes com o colo que, apesar do meu metro e oitenta, ainda me dá, outras com o arremesso de um chinelo.
Mãe há só uma, graças a Deus. Porque é difícil gerir o bem que nos sabe tê-las e saber que não nos pertencem; porque as queremos perto e eternas, nunca envelhecidas ou cansadas e, muito menos de partida...
A minha Fernandinha é avariada mas não tem uma só peça estragada. É aquela mulher horrorosa, que levava a piquena á praia, passeando a sua barriguinha negativa num biquini reduzido e se divertia a tirar a comida da boca da cria para ela não ficar pançuda. Era ver oferendas de sugos voarem pela janela a minha infância toda! Mas o cuidado com que me regava os vegetais com sumo de limão não tem explicação.
A minha Fernandinha é inconcebível... Acredita que sou pura até quando me pergunta de que cor será o meu vestido de casamento e se quero um raminho de flores de laranjeira nesse dia, entre gargalhadas de valor cósmico.
A minha Fernandinha estudava comigo ao colo e dava-me papa antes de servir o meu maninho recém nascido para que eu soubesse que este não me roubara o seu amor.
A minha Fernandinha ensinou-me a amar a vida, quando me fez dizer adeus ao meu pai que se julgava estar a morrer numa cama de hospital, quando eu tinha 5 anos.
A minha Fernandinha é uma fantasista inveterada que me acaricia os caracóis até nos dias de maior exaltação... É minha, minha, minha... Deixou-me crescer dentro dela e teve a hombridade de me oferecer ao mundo ao invés de mo dar. Escolheu o meu papá com o cuidado de quem escolhe um bom exemplo e deu-me o meu irmão que é o rapaz mais carinhoso e mais perfeito com que já regalei a vista.
É minha, minha, minha...
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