sexta-feira, 25 de maio de 2012
Há dias do Cara*+&$#!
A malta já não acredita em nada: nem no pai natal, nem nas renas do dito, nem na existência do homem aranha, bêbedo e transvestido de borboleta, escondido pela vergonha da perda dos seus poderes, nem tão pouco em chuvas de sapos. Já eu acredito em qualquer coisa. Aliás sempre acreditei e não é o passar do tempo que me há-de convencer de que não devo continuar a ser crente.
Esta oratória vem toda a propósito da incursão que acabo de fazer à missa de sétimo dia da minha avó e do rescaldo da minha expulsão, durante o dia de ontem, do gabinete de uma clínica dentária.
Por partes que já não basta levar traseiradas de sassis em stops insuspeitos, não é verdade?
Ontem deu-me uma dor num dente. Até aqui nada de novo, que dores de dentes todos temos e enquanto não me crescerem os marfinosos noutra zona que não a boca, a surpresa não pode ser grande!
Fiquei chateada; não apenas com a agonia subsequente mas porque tinha arranjado o diabrete de que me queixava sete meses antes. Telefono para a clínica e explico a situação: que não se admite, que não estava para isto, que era o que me faltava passar a vida de boca aberta enquanto eles brocam o que lhes apetece e não a zona que quero que matem! Consulta marcada e lá vou eu.
Deito-me na cadeira e explico, novamente a situação.
"-Mas olhe que o dente que lhe dói não é esse!"
"- Como?" - Pergunto com o aparelho que suga a saliva na mão.
"- O-dente-de-que-se-queixa-não-é-este"- carrega a sra.dra. num para dar grafismo à coisa, falando como se eu fosse retardada mental e não uma tipa com dentes de qualidade duvidosa - "- É este!"
Incrédula ainda rebato.
"- Tenha lá paciência mas eu sei bem qual é o dente que me dói!"
"- Pois! Olhe, para além disso o dente que foi arranjado foi o 34 e não o 24!"
Pela minha saúde que tive ganas de lhe perguntar se ela julgava estar no bingo mas respirei fundo e deixei que me apontasse, de forma muito impaciente, na esquelética da minha ficha, quais era os animais 34 e 24. Conclui que a dentista anterior me arranjou o dente de baixo e registou o arranjo do de cima.
Sem me dar ao trabalho de tirar a maquina sugadora disse:
"- Poix. Nexas chircunstânxias terei que aprexentar queixa."
A sra. dra. saca-me do babete e endireita-me a cadeira. Tira tudo o que meteu na minha boca e sem mais contemplações diz que não me ia tratar dente nenhum. Abanei levemente a cabeça pensando que podia ser um problema de altitude, uma alucinação auditiva, eu sei lá. Fui-me levantando nos entretantos. A tipa não vai de modas e empurra-me fazendo pressão para que eu me pusesse dali para fora. Claro que entre "conversas" posteriores com o director da dita clínica e muitas outras macacadas, tudo se resolveu mas estou em crer que serei o único ser do mundo a ter sido expulsa do dentista.
Deus Nosso Senhor, não satisfeito com esta belíssima merda manda-me, hoje, outra anedota.
Chegada à Igreja, atrasada, sento-me no banco da frente, ao lado da minha mãe. Miro as fotografias da juventude da minha avó má e estou a reflectir quando entra o sr. padre. "- Vamos rezar esta missa pelas almas dos irmão que partiram: José Simões Aguiar Melo, Francisca Genoveva de Linhares Nova, Almerinda Maçaroca Velha..." Ouvi muitos nomes... Muitas alminhas ali cirandavam, mas a da minha avó, nem nomeada quanto mais apoderada de rezas sacrossantas.
Olhei para a mamã, que, entre nervos e raivas se começou a rir.
As velhas, desgrenhadas, de chinelas de dedo e fome suficiente para comerem uma terrina de hóstias, olhavam-nos de esguelha... Não nos conheciam e nem nós a elas. O padre já me irritara no funeral. Ler é coisa que não sabe muito bem e o sotaque cerrado também não ajuda, mas esquecer o nome da defunta?!
Dirijo-me à sacristia no final da missa.
"- Sr. padre, sou a neta da Maria Luisa Roque Cardoso, a sra. cujo funeral celebrou na quinta feira passada."
Pausa; despe a batina, franze o sobrolho;
"- Eu não fiz o funeral dessa senhora..."
Agora é a minha vez de franzir o sobrolho.
"- Eu não fiz esse funeral!" - repete com o ar indignado de quem estava a ser acusado de roubo.
"- Vai-me perdoar mas tenho a certeza de que foi o sr. padre que celebrou a missa de corpo presente da minha avó!"
"- Como é que tem a certeza?!"
Já fora de mim vi-me na obrigação de responder:
"- Antes de tudo porque não há mais nenhum padre preto em Formeselha!"
"- Ah! Pois! Não me recordo!"
Enchendo-me de paciência lá digo ao homem que não rezou missa nenhuma de sétimo dia pela alma da minha avó má.
Esgadanhando-se, o padre ri e diz:
"- Mas a menina devia ter vindo antes do inicio da missa dar-me o nome da sra.!"
"- Agradeço que não se ria que o assunto para mim é sério!"
Danada, tão danada que estou... Anda meu malandro, faz-me outra para eu perder as estribeiras e vamos ver se haverá mais chamas no inferno do que as que eu tenciono atear em terra!
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